O leitor e seguidor “CF” entrou em contato por e-mail e mandou um relato sobre
uma situação de um relacionamento com outro menino, de mal entendidos e
desilusões, fatos bastante corriqueiros para maioria dos jovens gays assumidos e enrustidos. Vamos ao caso:
Olá Homens pelados, boa noite!
Meu nome é CF. Eu acompanho seu blog já há algum tempo e antes de
começar meu relato te dou os parabéns por criar e manter um espaço tão
aconchegante para nós, homossexuais, que ainda enfrentamos diversos
desafios quanto a nossa orientação. Seu blog é dez! ;)
Bom, venho aqui desabafar sobre um fato que ocorreu comigo e me
deixou mega frustrado. Gostaria muito que você lesse este texto e me
respondesse, e se possível publique este relato no blog para que outras
pessoas possam interagir e dividir possíveis situações iguais a minha.
Só peço que se fizer isso, pfv não me identifique! :)
Bom, eu sempre soube qual é a minha orientação sexual, porém por
diversos motivos nunca me aceitei da forma que sou. Na verdade, hoje eu
me aceito, mas isso é fruto de um longo trabalho no qual foi necessária
até a intervenção de uma psicóloga (Sim, eu fiz e ainda faço terapia).
Com a aceitação, veio o desejo e de certa forma a necessidade de eu me
relacionar com outras pessoas, sentimentalmente falando. Como eu nunca
tive amigos gays (Começei a ter recentemente) decidi procurar um cara
bacana por sites de relacionamento. E eu encontrei, para a minha grande
surpresa!
Há pouco tempo atrás conheci um menino. Nós conversamos pela
internet, depois trocamos nossos números de celular e aí passamos a
viver no Whatsapp trocando mensagens. Saímos uma vez, fomos ao cinema e
depois ficamos juntos conversando por horas e horas. Foi um sonho! Eu
nunca imaginei que pudesse viver essa experiência sendo homossexual, mas
eu consegui! Estava nas nuvens, até que… Num belo dia ele me disse que
um amigo bem próximo a ele ia fazer aniversário, e esse amigo tinha
chamado ele para uma comemoraçãozinha só com os amigos mais próximos.
Ele me convidou, e depois de pensar muito e alguns contra-tempos eu
aceitei.
Fomos ele, uma amiga dele e eu para a casa desse amigo. Chegando lá, o
pessoal era bem bacana! Foram super receptivos e quase me senti a
vontade, acho que não consegui porque era a primeira vez que os via e
eles falavam sobre coisas que na minha opinião é de caráter extremamente
pessoal (Sexo, com quantos tinham ficado, o que tinham feito e etc). Às
quatro e pouco da madrugada, decidimos deitar, e é óbvio que deitamos
juntos. Ficamos ali abraçadinhos, foi uma das melhores sensações da
minha vida, nunca tinha sentido alguém assim. Porém, pouco tempo depois
ele me disse que queria apimentar as coisas, disse também que não
iríamos fazer sexo, mas ele queria “brincar” um pouco. Eu me senti muito
pressionado e no fim das contas não consegui sentir tesão nenhum, não
tive prazer naquilo. Acho que basicamente por dois motivos: eu estava na
casa e na presença de desconhecidos e eu sou virgem (Sim, eu sou
virgem! E não tenho medo de dizer, acho que não é vergonha nenhuma
querer se guardar para alguém que realmente valha a pena e não sair por
aí transando com qualquer um!). Enfim, apesar de ter ficado excitado em
outros momentos naquela festa, quando deitamos não consegui ficar
ereto.
Então, ele decidiu ir dormir e eu também. No outro dia, nós acordamos
para irmos embora e eu falei com ele, pedi desculpas por não ter
conseguido (Mais motivado por estar gostando dele de verdade do que
realmente por não ter conseguido, eu NÃO queria fazer sexo naquela
condição! eu NÃO queria perder minha virgindade daquela maneira). Fomos
embora e quando chegou o momento de darmos tchau, ele falou pra mim: “Já
estou com saudades, vamos conversando! Quando eu chegar em casa te
mando mensagem”. Eu me animei, senti firmeza nas palavras dele… E esse
foi um dos meus erros.
Quando cheguei em casa, fui direto tomar banho e em seguida pulei na
cama. Estava morto de cansaço! Antes de dormir mandei mensagem pra ele.
Acordei próximo das cinco horas da tarde, tinha ido dormir era pouco
mais de meio dia. Eu abri o Whatsapp e vi: Ele tinha visualizado a
mensagem mas não tinha respondido. Aquilo não me preocupou, porque ele
também estava cansado e eu imaginei que ainda estivesse dormindo. Ele
tinha me falado que iria pra casa da avó almoçar com a família , então
eu fiquei na minha. Consegui segurar a ansiedade até às 20hs, mandei
outra mensagem pra ele: “Amor, ta aí?” Ele me respondeu algum tempo
depois dizendo que não tinha respondido porque na casa da sua avó não
tinha sinal e ele já estava indo pra casa. Respondi a mensagem dele
pedindo pra me avisar quando chegasse. Ele não me avisou. Já era mais de
meia-noite quando eu liguei pra ele pra saber como estava. Ele disse
que estava morrendo de sono e já ia deitar… Tentei perguntar se estava
tudo bem entre nós, porque estava achando aquele comportamento por parte
dele meio estranho, ele não quis tocar no assunto e disse: “To cansado,
amanhã a gente se fala”.
No outro dia, nossas conversas foram extremamente “secas”. Mensagens por
minha parte (Se eu não mandasse ele também não mandava) e respostas
curtas por parte dele. A gota d’água (E momento de mais tristeza pra
mim) foi quando eu mandei uma mensagem pra ele, após termos conversado
pelo celular e ele ter me dito de “pés juntos” que nada estava
diferente, eu escrevi: “Eu gosto de você viu?! Quero fazer e ser feliz
com você!” Ele visualizou e nada escreveu. Depois de mandar outras
mensagens, ele ter visualizado e não respondido nada de novo, eu
escrevi: “Pq não me responde?” Ele escreveu: “Estou numa palestra na
facul.” Eu pedi desculpa e não mandei mais nada, ao chegar em casa vi no
seu Facebook diversas fotos dele com os amigos durante a palestra (Ou
seja, ele não podia me responder, mas podia tirar fotos de “zuação”
durante o evento).
Depois disso não aguentei, apaguei o histórico de mensagens dele do
celular, apaguei o Whatsapp e deletei ele da minha página no Facebook.
Sentando no sofá, desatei a chorar baixinho para ninguém ouvir. Eu NUNCA
tinha sofrido uma decepção amorosa como essa! Doeu, doeu muito saber
que alguém brincou comigo dessa forma, e ainda está doendo!”
Bom, para você que está lendo isso, pode ser que esteja rindo de mim e
pensando: “Que idiota, sofrendo por isso!”. Pode até ser que eu seja
mesmo, mas me diga como você se sentiria se alguém com quem você sempre
sonhou aparecesse na sua vida, pegasse na sua mão, fizesse planos
(Pequenos que fossem) para vocês dois juntos, fizesse você viver
experiência antes desconhecidas, levasse você até as nuvens e no fim…
Você descobre que essa pessoa queria sexo com você, e mais nada?
Eu simplesmente não consigo parar de pensar no dia em que nos vimos
pela primeira vez. Ele pegou na minha mão e nós andamos juntos por
aquela avenida sem ligar para o que as pessoas pensavam e falavam! Ele
me abraçou, ele beijou minha mão, ele disse que tinha adorado me
conhecer e que queria conhecer mais e mais e mais e mais… Ele não disse
que ia ser pra sempre, mas ele deu a entender que ia durar muito!
Bom, esse foi meu desabafo! Estou feliz por não ter feito nada com
esse moleque, porque com certeza iria me arrepender, mas ele mexeu
demais comigo, mexeu com meus sonhos, pra no fim ser uma das minhas
maiores decepções.
Eu vou sobreviver, outros já passaram por isso e estão aí até hoje.
Mas por enquanto vai doer, a ferida vai ficar aberta por um tempo....
Resposta
Oi CF, tudo bom?
Chamei esse post de “Na sala de aula” pelo seguinte: tenho notado três perfis jovens e gays
bem distintos que frequentam o HOMENS PELADOS, seja o Blog, . Estou fazendo uma analogia com uma sala de aula para fazer
comentários sobre seu relato.
Esse ambiente é composto inteiramente por jovens gays. Na primeira
fileira costumam ficar os mais envolvidos com as “matérias” que o HP
apresenta. São dedicados, participativos, atenciosos e nem sempre
tímidos. Pelo menos, não são tímidos com o professor. Fazem suas
perguntas, tiram suas dúvidas e desenvolvem seu senso crítico
interagindo bastante. São gays assumidos, mas preferem a discrição.
Da segunda para a quarta fileira, existem também alunos
participativos. Mas costumam ser mais fechados, introspectivos e, para o HP, nunca fica muito claro se estão realmente entendendo as coisas que
digo ou se estão avoados, viajando em suas fantasias e questões
existenciais. São gays, mas ainda vivem mais dúvidas a respeito da
sexualidade VS. sociedade.
Da quinta fileira para o fundo, claro, isso não mudou até hoje e
talvez nunca mude, se estabelece a “turma do fundão”. De pessoas
inteligentes também, mas costumam ser rebeldes, reacionários e adoram
(dependendo do estado de humor que trazem de fora ou do tipo que querem
exibir para a sala) desafiar o professor. São gays assumidos e, boa
parte das vezes, precisam exaltar tal realidade.
De qualquer forma, é uma sala composta por jovens gays. O que mostra
que ser gay não define um perfil comportamental único; será idêntico a
qualquer sala de aula, quando os alunos que sentam próximos ao professor
querem se mostrar exemplares, os do meio são meio “indecisos”, avoados
e, por fim, os do fundo preservam aquela “boa” fama há séculos! Se acham
até revolucionários, mas serão iguais a todas gerações “do fundão” que
passaram por lá.
O CF, nessa sala imaginária do HP, é aquele que está “no meio para
frente”. É mais introspectivo, gosta de discrição, respeita a mínima
hierarquia que se estabelece entre professor e alunos e, na situação, é
aquele gay que está descobrindo os contornos de sua homossexualidade.
Já o rapazinho que você conheceu, nessa sala imaginária, fica no fundão ou na primeira fileira da sala?
Sim, fica no fundão.
O pessoal do fundão, acha que o legal e o inovador é ser como eles.
Não tem pudores de contabilizar as baladas, as loucuras e as curtidas
que fazem. Bebidas, cigarros, maconha as vezes… tudo isso faz parte
desse movimento de “contestação”. Querem enfrentar, de certa forma, o
“sistema” e fazem, normalmente, de uma maneira para chocar.
Claro que, do ponto de vista do HP, a turma da primeira fileira, a
galera do meio e a turma do fundão são mais iguais do que eles
gostariam. São todos jovens adolescentes e pós-adolescentes que conhecem
pouca coisa do mundo ainda e, o que mais os fazem parecidos, é uma
tremenda, gigantesca, enorme vontade de realizar suas expectativas, de
que a maioria (senão tudo) do que desejam e esperam se concretize com
uma certa facilidade.
O CF criou a sua expectativa com o o rapazinho do fundo da sala. Se
sentiram atraídos, mas o CF queria algo mais íntimo, de envolvimento
afetivo, carinhoso e que não fosse tão prático e tão rápido! Não
precisava ser tudo de imediato, no primeiro encontro. Mas CF é mais
paciente e menos impetuoso.
Impetuoso é o rapazinho. Ele entendeu que vocês não transariam na
primeira vez, naquelas circunstâncias com um monte de gente junto. Mas
ele queria brincar e realizar os desejos. Essas eram as expectativas do
menino.
Mas o que aconteceu? O CF brochou, porque brochar faz parte da
natureza de um homem ou de um menino. Brochou porque se sentiu
pressionado! Mas na cabeça do rapazinho, quando se tem desejo, as
pessoas liberam os impulsos e não ligam para formalidades! E brochar?
Ah, na cabeça da turma do fundão, “falhar” é algo muito mais difícil de
lidar! Porque são mais naturalmente à flor da pele, mais intensos, mais
extremos. Não é muito diferente da turma da frente, mas precisam exaltar
e fazer que as pessoas fiquem sabendo.
O que eu acho, realmente, é que meninos como o CF, que ficam do meio
para frente na sala de aula, tem mais chances de namorar. Tem mais
chances porque tem um comportamento mais moderado sobre a maioria dos
assuntos, e, quem é mais moderado, se permite entender um pouco mais as
demandas do outro. Aprende com mais facilidade a trocar e fazer
concessões.
Já a turma do fundão, ah, CF… a turma do fundão é de gente
egocêntrica! Precisa chamar a atenção, precisa tomar atitudes mais
radicais para “quebrar” com a harmonia da sala e, precisa sim, fazer uma
oposição. Acabam sendo mais individualistas.
Mas CF, o fundão, sempre será a minoria. Já pensou em procurar alguém do meio da sala pra frente?
Você precisa de alguém mais parecido com você. Pelo menos, parecido
com a pessoa que você é hoje. Porque tem outra coisa: daqui há um tempo
você vai crescer, vai viver experiências e, certamente, será outra
pessoa.
Um abraço,
HP HOMENS PELADOS...
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