Na casa agora quieta ainda se cheirava o perfume dos assados.
Visitas tinham ido e as que sobraram estavam acomodadas no quarto a elas
destinado, o chamado "quarto das visitas"; pernoitariam em camas de
armar e colchonetes de espuma fina colocados no chão.
Depois da ceia, na sala, só os primos. Os dois.
O mais velho: "Olha o teu presente...Diz se gostou." - e pendente por
cima do "V" do zíper do seu jeans aberto, a rola meio inchada, desmaiado
pingente, ainda mole mas se entesando aos pulinhos.
Grossa tromba, iluminada pelos piscas da árvore de natal, única luz no escuro do ambiente.
E o mais novo vexado até o ultimo grau: "Pare com isso,não gosto dessas brincadeiras!"
"Se era pra fazer doce, não devia ter me chamado..."
E o mais novo passando da vergonha à indignação- "Eu te chamei, quando?
bebeu demais, só pode!" -e voltou à vergonha pois o outro tinha feito
cair a calça e a pisava sobre o tapete. Sem a cueca e ignorando a
camiseta que ainda vestia, estava pelado, da cintura ao dedão do pé.
A sua vara tesa agora lhe chegava ao umbigo, desperta e em pé.
Com agilidades de gato sentou-se no sofá ao lado do priminho,
prendendo-o na laçada forte de seu braço e com a outra mão sufocando-lhe
o grito.
"Quieto! se acordar alguém digo que foi você que buliu comigo enquanto eu dormia. Digo á família toda, a teu pai e à titia!"
O que se seguiria daí pra frente, àquela ameaça podemos adivinhar, mas o
que teria encorajado o primo mais velho para que tivesse esta atitude?
O mais novo tentara descobrir qual fora seu ato que sendo mal
interpretado pelo outro, pudesse ter feito com que ele agisse assim,
questionado sua macheza? Dando ao mais velho todo aquele cabimento,
fazendo-o supor que pudesse fazer ele de menina.Ou por outra, talvez o
seu primo mais velho fosse desses que tinham o tipo de desvio que
dispensava a compania das moças, preferindo a dos outros rapazes,
fazendo desses sim, "moças para suas vontades"?
Quem sabe repassando os dois últimos dias de convivência entre ambos, poderia o mais novo chegar a razão daquilo?
Foi o que fez enquanto seu primo mais velho, continuava a lhe dizer
coisas ao ouvido, tentando por sua mão no troço dele, avivando as
ameaças á cada novo sinal de sua resistência.
***
Lembrou-se da mãe anunciando na mesa do café da manhã que a tia viria para a ceia.
A mãe: "Vem ela e traz Ramiro junto, mas vem só ela e o filho, o traste
do marido fica em Campos, graças a deus..." -comunicou ela, saboreando a
alegria de rever a irmã e o sobrinho sumidos de suas vistas por quase
três anos, sem ter que se preocupar com os possíveis e prováveis
escândalos do cunhado bebum.
O cunhado, batizado por ela de "o Gangorra", pois era o tipo de pessoa que quando se sentava, ela levantava. Crápula era elogio!
No dia anunciado chegaram.
As irmãs se abraçaram forte derramando algumas lágrimas nesse
reencontro,uma logo tratando de mentir á outra, dizendo que não mudara
nada, estava até mais bonita.A outra acabada pelos maus tratos da vida,
fingia acreditar na palavras da irmã. Obrigada!
Engordara, enfeiara, a cintura quase da largura dos ombros menopausada precocemente, vinte anos em dois se passaram para ela.
Quando amainaram as manifestações de fraternidade entre ambas, a irmã
que a recebia, voltou a atenção para o rapaz parado na área da casa, em
pé com duas bolsas de nylon nas mãos, uma de cada lado do corpo.
A tia ao sobrinho: "Ramiro! Que moço bonito você deu..." -desta vez
elogiou com a verdade - "Com quantos anos você esta, dezenove, vinte?"
"Dezessete, tia."
"Lembra de seu primo Carlos?" -e foi a vez dos primos se apertarem as
mãos, o mais novo sentindo um estremecimento dentro da mão vigorosa do
mais velho que apertava a sua.
No passar do dia enquanto a mãe e a tia passavam o dia na cozinha,
reduto das mulheres, Carlos arriscava uma conversa com seu primo.
Os assuntos porem não se desenvolviam, caiam no nada, não encontravam
afinidades em comum. Alem de que, primo Ramiro, tinha uns modos de
olhar, um sorrisinho de deboche interno a pontuar a conversa, que faziam
Carlinhos supor que acabara de dizer algum disparate.
E em sua presença o primo mais novo não encontrava lugar para acomodar
as mãos com naturalidade, os gestos saiam desconexos e sem afinação com
os temas, e os olhos freqüentemente caiam ao chão e ficava a sentir as
faces e a ponta das orelhas queimar. Desconforto e perturbação.
Numa ocasião, se depararam no corredor da casa, um numa ponta e o outro na outra.
Estreito corredor, ainda mais estreitado por um móvel aparador, forrado
de louças e algumas peça de prata, enfim, quando nesta parte da casa,
enquanto um se espremia contra a parede e o outro debruçava-se sobre o
móvel, para se darem passagem, Carlos teve a impressão de que Ramiro
jogou o corpo sobre o seu de propósito.
Mais que isto,projetara os quadris para frente colando-se todo em seu
traseiro e demorando nesta pressão num breve, longo, fugaz, eterno
instante. Mais que o necessário para a passagem.
"Desculpe" -disse ele quando por fim transpôs o corpo de Carlos, passando para o lado livre do corredor.
Desnorteado Carlos, a sentir ainda o calor de Ramiro,as sensações de seu físico por trás de si, por longo tempo depois.
Em outra, quando Carlinhos foi tomar banho e deu com o primo á porta do
banheiro, toalha atada á cintura e roupas usadas sob o sovaco, envolto
em um ar tépido de ducha.
Suas vistas tornaram a cair ao chão nesta vez com a visão daquele peito
largo, onde escorriam algumas gotas de água mal enxugadas.
Entrou no banheiro ainda cheio do vapor do banho dele.
Descobriu atrás da porta uma cueca esquecida, pequena peça de algodão
azul céu, meio virada do avesso, caída no piso frio, obscena.
Abaixando-se, apanhou-a.
O tecido meio disforme conservava ainda a anatomia que embalava á pouco,
o cacho dos genitais dele.Automaticamente trouxe a peça suja ao nariz,
cheirou fundo a frente o forro interno. Cafungou o odor forte, suor,
sebo, mijo.Embolando-a, tragou-a com a boca como quem cheira lança
perfume, engolindo o cheiro da macheza impregnada no tecido.
Deitou-se no ladrilho com as pernas flexionadas, julgava que a posição
lhe dava maior desfrute e com o dedo vestido no tecido da cueca de
Ramiro,penetrou-se masturbando-se ao mesmo tempo. Esporrou tendo por
trás dos olhos fechados a nudez imaginada do primo.
Carlos descobriu que gostava de olhar o primo, sentia um agradava-se em
observa-lo. Mas fazia essas sondagens secretamente, não perdia uma
oportunidade de "assisti-lo", não de modo escancarado e sim quando
julgava que Ramiro não se dava conta de sua vigia. Constante
contemplação.
***
Chegou a noite em que todos se reuniriam para a espera do nascimento do deus-menino.
A parentada chegava em peso, toda enrolada em roupas novas, de festa,
algumas ainda na goma da loja sem a primeira lavagem. A casa cheia,
ruidosa.
Todos os assuntos rolavam pelos grupos espalhados. Gracejos amenos,
saudações, recordações dos natais passados e dos que não estavam neste.
Algum piadista desbocado arrancava gargalhadas e protestos- "Que
maneirasse, as crianças..." - reprimia a avó com um mal-disfarçado
sorriso no canto da boca, repassando o desfecho da anedota.
Também haviam os antigos rancores cochichados.
No miolo dos recintos a alegria e a fraternidade
exageradas,esforçavam-se todos na obrigação de uma noite feliz. Pelos
cantos aos rodapés, desfiavam maledicências e avivavam antipatias, entre
goles de cidra espocada efusivamente,viva!
Carlinhos acompanhou vovô e vovó, tia Celina também, a igreja á Missa do Galo.
Ao voltarem das bênçãos, o primo mais novo deu com Ramiro sem camisa,
por culpa das noites abafadas de dezembro, entregue as vibrações de um
axé-music, meio embriagado pela musica e pelo vinho de garrafão no qual
matava a sede nos intervalos da dança, tornando encher o copo e
esvaziando em goles bem puxados.
Uma vizinha que passava para distribuir seus cumprimentos e votos de
boas festas, de olho grudado no rapaz que dançava, hipnotizada, o mais
novo então notou que não era só com ele que acontecia o fenômeno de
Ramiro, aquele visgo no corpo e no jeito que capturava as vistas,não
permitia o desvio de mirada sem grande esforço- quem chamou ela, quem a
convidou?- perguntou de si pra si Carlos, com raiva da moça.
A vizinha não se contendo, tentou acompanha-lo na coreografia, pedia-lhe que "fosse mais devagar, queria aprender!" Pretexto.
Primão, grandão, suadão.
Ramiro veio na direção dele, os braços levantados ainda gingando no ritmo bahiano , com os sovacos em pelos tão á mostra.
Feliz Natal! Começaram as cadeias de abraços, muita paz! desejavam-se mutuamente.
Tudo que Carlos não teve naquele momento foi paz. Ramiro desceu sobre
ele os braços, trancando-o em seu peito, calor e frio naquela pele
suada, e depôs em seu ouvido num tom íntimo e caloroso um "Feliz Natal".
Inferno e céu, borboletinhas voavam em seu estômago, atarantou-se todo com aquela proximidade.
De tão mexido com Ramiro, nem ouviu que votos de boas festas os outros
lhe desejaram, nem a ninguém desejou nada, apenas abraçava quem dele se
aproximasse, sem nem um "tudo de bom" a sair de sua boca.
***
Finda a festa.
Agora com a casa apagada no rescaldo da festa, o primo mais velho com
aquelas liberdades, adoçando a voz como quem fala a uma
criança.Virando-se em tirano quando não era atendido em seus pedidos,
ameaçava. Jurava quebrar-lhe os dentes, formar um rebuceteio.
Ramiro: "Anda, mexe nele, aperta ele vai..." - e o priminho examinava o
tal presente já não mais protestava vencido pela ameaça , seguia as
instruções ditadas pelo outro com sua voz rouca carregada de vontades.
E Ramiro: "Dá um beijo nele, beija até o talo" - o priminho beijava
fundo, desbeijava, tornava beijar o colosso. No furinho da ponta sentia
melar um liquido, uma liga - "Ai Carlinhos...tua güela parece buceta!". E
apertava a cabeça de Carlos fazendo-o engolir inteiro, provocava-lhe
náuseas,ânsias. Tudo aquilo ali, brinquedão, a parar na garganta.
O mais velho passou a tirar-lhe a roupa com violência, urgentes puxadas
nas suas calças descobriam-lhe a bunda branquinha para aperta-la com a
insistência de sua mão grande e machucadora.
Tomando a posição certa, foi enfiando o seu bastão no estreito traseirinho de menina.
E Carlos: "Dói, dói!"
E Ramiro: "Deixa doer" - e beijava molhando-lhe a face, adentrando mais,
deixando escapar dos lábios um "gostoooso" sussurrado compridamente.
Inventou o mais velho experimentando outras posições. Levantou as pernas
do priminho para seus ombros deixando-o com essa nova pose de peru
assado, mais vulnerável ás suas metidas.
Acomodou-se Carlos a dor daquela invasão,teve então tempo e direito de
observar Ramiro,sem ter que se esconder no descaso. Tomou o rosto bonito
do primo entre as mãos e alcançou-lhe a boca que se abriu para ele,
dando-lhe a língua com um misto de gostos, cidra, vinho, passas e frutas
cristalizadas.
Bastou isso, essa retribuição de carinho para que Carlos volteasse o
pescoço do primo com um colar de beijos, puxasse sua camiseta
obrigando-o a nudez completa, e se grudasse nele como se quisesse
trespassa-lo.
E o mais velho trançado com os carinhos do mais novo, redobrara seu empenho.
Em certo momento teve que anunciar ao mais novo,queria que ele soubesse,
talvez como recompensa a sua cooperação ou quem sabe para que ele
aumentasse a cadencia de suas reboladas tornando o fim ainda mais
sublime, então anunciou - "Vou agora...".
De fato não tardou, esporrou rugindo nem se importando se alguém
despertasse e os pilhasse atraídos pelos sons guturais de sua
satisfação.
Carlos sentiu-o retesar-se dentro de si, e quando se retirou rolando de
lado com seu pau já mole,suplicou em seu relaxamento vazio, recuperando a
sensatez subitamente - "Não diga a ninguém" - e repetindo - "Não vai
contar,vai?"
E Carlos: "Não, não vou contar".
Ramiro não teve culpa, Carlos sabia que não.
Embora não tivesse lhe encorajado com palavras, o primo mais novo soube que olha-lo foi sua perdição.
Sim, não fosse por sua mirada delatora de fêmea gulosa, e Ramiro não
teria percebido suas inclinações,sua predisposição àqueles desejos.
Teria que tomar muito cuidado com seus olhos daí por diante se quisesse
manter oculta sua inclinação real aos olhos de todos.
Precisaria disfarçar, manter em segredo, passar-se por normal e mais
tarde arrumar até uma namorada senão ficaria marcado,apontado e xingado.
Já vira outros como ele mas que não souberam dissimular bem, fracassaram e viraram chacota.
Ele, Carlos, redobraria os cuidados, pensou achegando-se mais a Ramiro.
Pelo menos com o primo não teria nada a esconder.
Primo Ramiro só voltaria a Campos depois do ano bom, lá pro dia seis ou sete...
As luzes do pisca continuavam a iluminar a sala inconstantemente.
(Fim)
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