terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Sair ou não de um casamento por ser gay????


RELATO IMPORTANTE DE UM SEGUIDOR DO BLOG... AMEI NÃO PUDE DEIXAR DE POSTAR..

Pois é, chegou o momento, o confronto com seus fantasmas, o momento de decidir entre o amor e a sexualidade. Isso, é claro, se você ama o seu, ou a sua, espos@. Qual o espanto? Achou que um@ gay não poderia verdadeiramente amar o sexo oposto? Pois bem…Muitos, como eu, amaram. Muitos, como eu, não estavam casados por aparência. Muitos, como eu, tiveram que pesar todas as opções antes de sequer deixar que essa dúvida lhes invadisse o coração. Pra mim, foram 10 anos.
Muitos me perguntam se eu sabia que era gay quando me casei, e o mais importante, é claro, se ela sabia. Eu enrolo, me sinto mal, me questiono, me julgo, me culpo, mas respondo. Mais ou menos. Pera lá, ou sabe ou não sabe. Será? Todos que me conheciam tinham suas suspeitas e faziam questão de externá-las. Mas vamos por partes. Eu sempre soube,Aqui, vou me limitar a dizer que eu SEMPRE soube, mas não queria ser. Quem quer? E não é porque é ruim, ou porque eu conscientemente achava que era errado, era apenas por ver como a sociedade nos tratava: o deboche, a chacota, a desvalorização de nossas vidas, de nossa cidadania. Não, eu não queria ser gay de jeito nenhum. Mas, é difícil para um adolescente dos anos 80, de uma hora pra outra, chegar pra sua namorada e dizer algo que nem ele tem certeza de que será pra sempre. Eu sabia que era gay, ok, mas também achava que não seria para sempre, que isso morreria em mim, ou pelo menos eu tinha a esperança. Mas, pra não dizer que fui um completo covarde e me casei sem dar a menor pinta de que isso poderia vir à tona, contei a ela que já havia “experimentado” transar com homem, mas que não havia gostado. Na verdade eu gostava, e gostava muito, mas ao mesmo tempo também gostava de transar com ela. Fui covarde? Sim! Hoje enxergo isso. Mas não era hoje, era um adolescente tentando se encaixar no mundo, tentando parar de sentir vontade de se matar, tentando encarar as pessoas de frente. E isso ela me deu. Com ela eu era forte, eu era “macho”, eu me enquadrava. Era amor. Posso dizer que fomos muito felizes, muito mesmo. Ao ponto de não pensar mais em homens, de achar que tivesse tudo resolvido, que eu conseguiria ser feliz. E principalmente fazê-la feliz. Fomos muito felizes, não tenho dúvidas disso, e o fruto disso foi meu filho, que nem vou começar a falar pra poder terminar esse post ainda hoje. Foram anos inesquecíveis. Até o sétimo ano de casamento eu havia sufocado o gay em mim, não a trai, nem pensava nisso. Tínhamos nossas brigas como qualquer outro casal. E após 7 anos qualquer relacionamento passa por um desgaste. Conosco não foi diferente. Morávamos nos EUA e decidimos que ela viria pro Brasil ficar um tempo. Umas férias conjugais. Pois bem, foi deixar ela no aeroporto de Los Angeles que meu carro, não sei se por instinto, não sei se em alguma forma de transe, não sei, só sei que eu estava na porta de um bar gay. O coração acelerado. Tudo voltava, como uma avalanche, me embrulhando o estômago, me empurrando pra cerveja gelada, servida pelo descamisado bartender e seu sorriso sexy. Lá estava eu. Como um desertor que volta pro seu exército, mas que esqueceu como se atira, como se manuseia sua arma, como quem viveu em tempos de paz e agora não tem a menor ideia de como voltar pras trincheiras.
Mas lá estava eu. Naquele bar. Nunca fui de chegar em cima, de tomar a iniciativa, sempre gostei de atrair. E atraí sim. Eu, com 27 anos, recém formado, bebendo compulsivamente, era óbvio que eu não pertencia àquilo, o que deve ter atiçado horrores os caçadores presentes. Até que um se aproximou. Eu tremia. Tudo de novo, como se nunca tivesse passado por isso. Mas abri a guarda, e nos abraçamos, não consegui beijar, não sei se culpa, ou medo de AIDS, ou ambos. Não queria me sentir sujo. Sujo no sentido de estragar o que eu tinha em casa. Não passou disso, só uma lambida na minha orelha que jamais esquecerei. Fui embora. Fugi. Não queria. Não podia.
Na volta da minha esposa, do Brasil, eu a chamei na sala e disse: -Preciso te falar algo. Acho que sou gay.
Ela me perguntou:-Por que?
Eu: Porque eu fiquei com um cara no dia que te deixei no aeroporto.
Chorei o tempo todo, não sei se era choro de remorso, de alívio por finalmente ter contado pra alguém no mundo as  minhas suspeitas. Ela era a única pessoa no mundo a saber disso. Nunca havia falado nada disso pra ninguém. E o mais louco é que depois que fiz isso passei a ter uma confiança absurda nela. Uma admiração também, que me faz entender o porquê de existirem casamentos que vivam esse formato para sempre. Eu finalmente havia me exposto para a pessoa que eu mais amava e ela não me julgou, não me recriminou, só me escutou. Me abraçou e chorou junto. Não sei por quanto tempo, mas ao fim desse dia me vi ainda mais apaixonado por essa mulher. Ao ponto de achar que nunca mais teria uma recaída dessas. Que nunca mais iria àquele bar, que nunca mais sentiria essa necessidade. Parece que quando mostrei minhas fraquezas, pela primeira vez me senti amado como eu sou. Sem máscaras. Como amei essa mulher!
Foram 3 anos que guardamos esse segredo. Eu pela primeira vez em minha vida podia falar sobre isso com alguém, e chegamos à conclusão que eu deveria ser bissexual. Claro, por que não? Eu adorava transar com minha esposa, tinha que ser bissexual. E se eu era bissexual, eu poderia perfeitamente só fazer sexo com ela, né? Infelizmente não foi bem assim. Outra viagem, outra escapada, só que dessa vez veio a culpa. Uma culpa tão extrema que não esperei nem ela voltar, liguei pra ela aos prantos imediatamente após a traição. Chorava tanto que não conseguia nem falar direito o que estava acontecendo. Quando cheguei em casa, continuei chorando, sozinho, embaixo dos cobertores, quando de repente me lembro que tinha uma arma no armário. E se eu acabasse com isso de uma vez? E se eu livrasse todos de mim? Não sei o que me segurou e eu liguei novamente pra minha esposa. Disse que estava com medo daquela arma. e dias depois ela estava nos EUA, em casa. Como viver a minha sexualidade tendo uma mulher assim? E é por isso que eu entendo muitos homens preferirem guardar esse segredo dentro de seus casamentos. Eu não consegui, chegou um momento que eu precisei viver esse amor maravilhoso que eu tinha com ela com um homem. Queria me sentir completo. Tinha que pensar em mim. E sabia, que linda do jeito que ela é, muitos pretendentes fariam fila, e não deu outra.
Foi difícil a separação? Claro, qual não é? Mas foi honesta! Me orgulho dessa história, foi uma história de amor e não de mentiras. Claro, poderia ter falado pra ela claramente que era gay e que estava tentando não ser, mas nem eu tinha essa certeza. Até meu pai antes do casamento veio contar pra ela que eu já tinha experimentado homem, e ela disse que já sabia. Sim, eu havia dito muito antes, eu não me casaria com alguém totalmente desprevenida, não sou esse tipo de canalha. Relacionamentos, principalmente aqueles repletos de amor, nunca são tão simples. E por isso, só tenho a dizer que cada relacionamento tem sua fórmula, cada casal tem que achar a sua forma de amar, mas não esqueça, tenha coragem de estipular as regras que lhes fazem felizes, seja o quão revolucionárias forem, o que vale é botar as cartas na mesa e ser feliz!

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