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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

QUESTÕES DA VIDA GAY.... Na sala de aula...

O leitor e seguidor “CF” entrou em contato por e-mail e mandou um relato sobre uma situação de um relacionamento com outro menino, de mal entendidos e desilusões, fatos bastante corriqueiros para maioria dos jovens gays assumidos e enrustidos. Vamos ao caso:
Olá Homens pelados, boa noite!
Meu nome é CF. Eu acompanho seu blog já há algum tempo e antes de começar meu relato te dou os parabéns por criar e manter um espaço tão aconchegante para nós, homossexuais, que ainda enfrentamos diversos desafios quanto a nossa orientação. Seu blog é dez! ;)
Bom, venho aqui desabafar sobre um fato que ocorreu comigo e me deixou mega frustrado. Gostaria muito que você lesse este texto e me respondesse, e se possível publique este relato no blog para que outras pessoas possam interagir e dividir possíveis situações iguais a minha. Só peço que se fizer isso, pfv não me identifique! :)
Bom, eu sempre soube qual é a minha orientação sexual, porém por diversos motivos nunca me aceitei da forma que sou. Na verdade, hoje eu me aceito, mas isso é fruto de um longo trabalho no qual foi necessária até a intervenção de uma psicóloga (Sim, eu fiz e ainda faço terapia). Com a aceitação, veio o desejo e de certa forma a necessidade de eu me relacionar com outras pessoas, sentimentalmente falando. Como eu nunca tive amigos gays (Começei a ter recentemente) decidi procurar um cara bacana por sites de relacionamento. E eu encontrei, para a minha grande surpresa!
Há pouco tempo atrás conheci um menino. Nós conversamos pela internet, depois trocamos nossos números de celular e aí passamos a viver no Whatsapp trocando mensagens. Saímos uma vez, fomos ao cinema e depois ficamos juntos conversando por horas e horas. Foi um sonho! Eu nunca imaginei que pudesse viver essa experiência sendo homossexual, mas eu consegui! Estava nas nuvens, até que… Num belo dia ele me disse que um amigo bem próximo a ele ia fazer aniversário, e esse amigo tinha chamado ele para uma comemoraçãozinha só com os amigos mais próximos. Ele me convidou, e depois de pensar muito e alguns contra-tempos eu aceitei.
Fomos ele, uma amiga dele e eu para a casa desse amigo. Chegando lá, o pessoal era bem bacana! Foram super receptivos e quase me senti a vontade, acho que não consegui porque era a primeira vez que os via e eles falavam sobre coisas que na minha opinião é de caráter extremamente pessoal (Sexo, com quantos tinham ficado, o que tinham feito e etc). Às quatro e pouco da madrugada, decidimos deitar, e é óbvio que deitamos juntos. Ficamos ali abraçadinhos, foi uma das melhores sensações da minha vida, nunca tinha sentido alguém assim. Porém, pouco tempo depois ele me disse que queria apimentar as coisas, disse também que não iríamos fazer sexo, mas ele queria “brincar” um pouco. Eu me senti muito pressionado e no fim das contas não consegui sentir tesão nenhum, não tive prazer naquilo. Acho que basicamente por dois motivos: eu estava na casa e na presença de desconhecidos e eu sou virgem (Sim, eu sou virgem! E não tenho medo de dizer, acho que não é vergonha nenhuma querer se guardar para alguém que realmente valha a pena e não sair por aí transando com qualquer um!).  Enfim, apesar de ter ficado excitado em outros momentos naquela festa, quando deitamos não consegui ficar ereto.
Então, ele decidiu ir dormir e eu também. No outro dia, nós acordamos para irmos embora e eu falei com ele, pedi desculpas por não ter conseguido (Mais motivado por estar gostando dele de verdade do que realmente por não ter conseguido, eu NÃO queria fazer sexo naquela condição! eu NÃO queria perder minha virgindade daquela maneira). Fomos embora e quando chegou o momento de darmos tchau, ele falou pra mim: “Já estou com saudades, vamos conversando! Quando eu chegar em casa te mando mensagem”. Eu me animei, senti firmeza nas palavras dele… E esse foi um dos meus erros.
Quando cheguei em casa, fui direto tomar banho e em seguida pulei na cama. Estava morto de cansaço! Antes de dormir mandei mensagem pra ele. Acordei próximo das cinco horas da tarde, tinha ido dormir era pouco mais de meio dia. Eu abri o Whatsapp e vi: Ele tinha visualizado a mensagem mas não tinha respondido. Aquilo não me preocupou, porque ele também estava cansado e eu imaginei que ainda estivesse dormindo. Ele tinha me falado que iria pra casa da avó almoçar com a família , então eu fiquei na minha. Consegui segurar a ansiedade até às 20hs, mandei outra mensagem pra ele: “Amor, ta aí?” Ele me respondeu algum tempo depois dizendo que não tinha respondido porque na casa da sua avó não tinha sinal e ele já estava indo pra casa. Respondi a mensagem dele pedindo pra me avisar quando chegasse. Ele não me avisou. Já era mais de meia-noite quando eu liguei pra ele pra saber como estava. Ele disse que estava morrendo de sono e já ia deitar… Tentei perguntar se estava tudo bem entre nós, porque estava achando aquele comportamento por parte dele meio estranho, ele não quis tocar no assunto e disse: “To cansado, amanhã a gente se fala”.
No outro dia, nossas conversas foram extremamente “secas”. Mensagens por minha parte (Se eu não mandasse ele também não mandava) e respostas curtas por parte dele. A gota d’água (E momento de mais tristeza pra mim) foi quando eu mandei uma mensagem pra ele, após termos conversado pelo celular e ele ter me dito de “pés juntos” que nada estava diferente, eu escrevi: “Eu gosto de você viu?! Quero fazer e ser feliz com você!” Ele visualizou e nada escreveu. Depois de mandar outras mensagens, ele ter visualizado e não respondido nada de novo, eu escrevi: “Pq não me responde?” Ele escreveu: “Estou numa palestra na facul.” Eu pedi desculpa e não mandei mais nada, ao chegar em casa vi no seu Facebook diversas fotos dele com os amigos durante a palestra (Ou seja, ele não podia me responder, mas podia tirar fotos de “zuação” durante o evento).
Depois disso não aguentei, apaguei o histórico de mensagens dele do celular, apaguei o Whatsapp e deletei ele da minha página no Facebook. Sentando no sofá, desatei a chorar baixinho para ninguém ouvir. Eu NUNCA tinha sofrido uma decepção amorosa como essa! Doeu, doeu muito saber que alguém brincou comigo dessa forma, e ainda está doendo!”
Bom, para você que está lendo isso, pode ser que esteja rindo de mim e pensando: “Que idiota, sofrendo por isso!”. Pode até ser que eu seja mesmo, mas me diga como você se sentiria se alguém com quem você sempre sonhou aparecesse na sua vida, pegasse na sua mão, fizesse planos (Pequenos que fossem) para vocês dois juntos, fizesse você viver experiência antes desconhecidas, levasse você até as nuvens e no fim… Você descobre que essa pessoa queria sexo com você, e mais nada?
Eu simplesmente não consigo parar de pensar no dia em que nos vimos pela primeira vez. Ele pegou na minha mão e nós andamos juntos por aquela avenida sem ligar para o que as pessoas pensavam e falavam! Ele me abraçou, ele beijou minha mão, ele disse que tinha adorado me conhecer e que queria conhecer mais e mais e mais e mais… Ele não disse que ia ser pra sempre, mas ele deu a entender que ia durar muito!
Bom, esse foi meu desabafo! Estou feliz por não ter feito nada com esse moleque, porque com certeza iria me arrepender, mas ele mexeu demais comigo, mexeu com meus sonhos, pra no fim ser uma das minhas maiores decepções.
Eu vou sobreviver, outros já passaram por isso e estão aí até hoje. Mas por enquanto vai doer, a ferida vai ficar aberta por um tempo....

Resposta
Oi CF, tudo bom?
Chamei esse post de “Na sala de aula” pelo seguinte: tenho notado três perfis jovens e gays bem distintos que frequentam o HOMENS PELADOS, seja o Blog, . Estou fazendo uma analogia com uma sala de aula para fazer comentários sobre seu relato.
Esse ambiente é composto inteiramente por jovens gays. Na primeira fileira costumam ficar os mais envolvidos com as “matérias” que o HP apresenta. São dedicados, participativos, atenciosos e nem sempre tímidos. Pelo menos, não são tímidos com o professor. Fazem suas perguntas, tiram suas dúvidas e desenvolvem seu senso crítico interagindo bastante. São gays assumidos, mas preferem a discrição.
Da segunda para a quarta fileira, existem também alunos participativos. Mas costumam ser mais fechados, introspectivos e, para o HP, nunca fica muito claro se estão realmente entendendo as coisas que digo ou se estão avoados, viajando em suas fantasias e questões existenciais. São gays, mas ainda vivem mais dúvidas a respeito da sexualidade VS. sociedade.
Da quinta fileira para o fundo, claro, isso não mudou até hoje e talvez nunca mude, se estabelece a “turma do fundão”. De pessoas inteligentes também, mas costumam ser rebeldes, reacionários e adoram (dependendo do estado de humor que trazem de fora ou do tipo que querem exibir para a sala) desafiar o professor. São gays assumidos e, boa parte das vezes, precisam exaltar tal realidade.
De qualquer forma, é uma sala composta por jovens gays. O que mostra que ser gay não define um perfil comportamental único; será idêntico a qualquer sala de aula, quando os alunos que sentam próximos ao professor querem se mostrar exemplares, os do meio são meio “indecisos”, avoados e, por fim, os do fundo preservam aquela “boa” fama há séculos! Se acham até revolucionários, mas serão iguais a todas gerações “do fundão” que passaram por lá.
O CF, nessa sala imaginária do HP, é aquele que está “no meio para frente”. É mais introspectivo, gosta de discrição, respeita a mínima hierarquia que se estabelece entre professor e alunos e, na situação, é aquele gay que está descobrindo os contornos de sua homossexualidade.
Já o rapazinho que você conheceu, nessa sala imaginária, fica no fundão ou na primeira fileira da sala?
Sim, fica no fundão.
O pessoal do fundão, acha que o legal e o inovador é ser como eles. Não tem pudores de contabilizar as baladas, as loucuras e as curtidas que fazem. Bebidas, cigarros, maconha as vezes… tudo isso faz parte desse movimento de “contestação”. Querem enfrentar, de certa forma, o “sistema” e fazem, normalmente, de uma maneira para chocar.
Claro que, do ponto de vista do HP, a turma da primeira fileira, a galera do meio e a turma do fundão são mais iguais do que eles gostariam. São todos jovens adolescentes e pós-adolescentes que conhecem pouca coisa do mundo ainda e, o que mais os fazem parecidos, é uma tremenda, gigantesca, enorme vontade de realizar suas expectativas, de que a maioria (senão tudo) do que desejam e esperam se concretize com uma certa facilidade.
O CF criou a sua expectativa com o o rapazinho do fundo da sala. Se sentiram atraídos, mas o CF queria algo mais íntimo, de envolvimento afetivo, carinhoso e que não fosse tão prático e tão rápido! Não precisava ser tudo de imediato, no primeiro encontro. Mas CF é mais paciente e menos impetuoso.
Impetuoso é o rapazinho. Ele entendeu que vocês não transariam na primeira vez, naquelas circunstâncias com um monte de gente junto. Mas ele queria brincar e realizar os desejos. Essas eram as expectativas do menino.
Mas o que aconteceu? O CF brochou, porque brochar faz parte da natureza de um homem ou de um menino. Brochou porque se sentiu pressionado! Mas na cabeça do rapazinho, quando se tem desejo, as pessoas liberam os impulsos e não ligam para formalidades! E brochar? Ah, na cabeça da turma do fundão, “falhar” é algo muito mais difícil de lidar! Porque são mais naturalmente à flor da pele, mais intensos, mais extremos. Não é muito diferente da turma da frente, mas precisam exaltar e fazer que as pessoas fiquem sabendo.
O que eu acho, realmente, é que meninos como o CF, que ficam do meio para frente na sala de aula, tem mais chances de namorar. Tem mais chances porque tem um comportamento mais moderado sobre a maioria dos assuntos, e, quem é mais moderado, se permite entender um pouco mais as demandas do outro. Aprende com mais facilidade a trocar e fazer concessões.
Já a turma do fundão, ah, CF… a turma do fundão é de gente egocêntrica! Precisa chamar a atenção, precisa tomar atitudes mais radicais para “quebrar” com a harmonia da sala e, precisa sim, fazer uma oposição. Acabam sendo mais individualistas.
Mas CF, o fundão, sempre será a minoria. Já pensou em procurar alguém do meio da sala pra frente?
Você precisa de alguém mais parecido com você. Pelo menos, parecido com a pessoa que você é hoje. Porque tem outra coisa: daqui há um tempo você vai crescer, vai viver experiências e, certamente, será outra pessoa.
Um abraço,
HP HOMENS PELADOS...

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