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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

-Essa "porra" só pode ser viado!!!!

                                                          



Quantas vezes vocês já presenciaram alguém falar essa frase, alto, em bom som? Na maior cara de pau do mundo. Zero de vergonha. Eu diria até, com um certo orgulho. Pois bem, esta foi a primeira frase que escutei no carnaval. Não foi dirigida a mim, mas isso pouco importa. Quantas, e quantas, vezes nos calamos ao ouvir tal ofensa? É todo dia. Todo lugar. Todo mundo.
Esse comportamento cultural, de pré-assumir que é ruim ser viado irrita. Veja a quantidade de preconceito e homofobia embutida nessa frase. Primeiro:
-Essa “porra”.
Ser viado para quem proclama essa frase é comparável a ser uma “porra”. Um nada. Uma coisa. Essa “porra” é o mesmo que ser uma “merda” qualquer. Aí vem o:
-Só pode ser viado.
Tão, ou pior, do que a primeira acusação, o “só pode” é o mesmo que “não resta outra opção pior do que ser viado”. Ser viado para as pessoas que usam essa frase, no seu cotidiano, é a pior coisa do mundo. Óbviamente, incluo aí matar e roubar. Enfim, o que quero dizer é que frases aparentemente inofensivas, utilizadas amplamente no nosso cotidiano podem destruir a auto-estima gay e reforçar o preconceito contra qualquer um de nós.
Ao ouvir essa frase, como tantas outras que escutamos no trabalho, na praia, no supermercado, a todo canto, um ódio sobe a minha “espinha” e acaba com meu humor. Não vejo falarem alto, em público, coisas que eu escutava quando criança, do tipo:
-Que cagada só pode ser “preto”.
Ou:
-Esse cara é um miserável pão-duro, só pode ser Judeu.
Acho que se a sociedade aprendeu a parar de perpeturar tal comportamento, também pode parar de nos ofender com essas malditas frases. Está certo que as leis contra o racismo ajudaram, mas se não conseguimos, ainda, tal lei para a homofobia, que pelo menos pensem antes de falar tal barbaridades, em público, e nos poupem de ouvir tais absurdos. Não quero ter um rompante e sair “encacetando” todos que falam essas merdas, sairia na porrada todos os dias. Portanto, vamos ter mais cuidado nas palavras escolhidas como forma de xingamento, galera! Isso inclui entre nós mesmo. Eu já me peguei, condicionado, várias vezes, a xingar no trânsito, ou em qualquer lugar, outro homem de “viado”. Como se eu mesmo achasse que isso pudesse ser um xingamento de verdade. É esse o grau dessa loucura, dessa perpetuação de pré-conceitos e vícios culturais, que nos encontramos. Tento todo dia educar esse pessoal. Corrijo sempre quando falam coisas do tipo:
-Ele é homem, não é viado não.
Ser “viado” não pode excluir o ser “homem”. Quantas pessoas cometem esse erro? Parece inofensivo, mas com a repetição dessa afirmação nossa masculinidade pode se enfraquecer na visão da sociedade, e entre nós mesmo. Vamos nos preservar, vamos nos fortalecer, e por fim, vamos mudar essa realidade absurda, que mais parece uma cegueira coletiva, e transformar o conceito de “ser viado” em algo bom, honrável e, por fim, respeitável. Pense nisso da próxima vez que, por vício, xingar alguém de viado.

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